4.17.2007

No caderno que vinha na mala

Em Barcelona não se tiram fotografias a preto e branco, mas por vezes, estas obtêm-se. É como se ela fosse a casa do Deus das cores, omnipresente e omnisciente, com infinita ciência do belo, que se exprime na harmonia com que os raios do Sol são lá reflectidos. Barcelona é a preto e branco aqui, a cores mediterrâneas ali, dragões chineses nas ombreiras das portas, ao lado de bancas com chás marroquinos, casas que vendem cerâmica catalã em frente ao quebab, ou aos hambúrgueres. As cores de Barcelona fazem-se de um pouco de tudo o que neste Mundo mexe, não a retalho, mas em síntese. As pessoas em Barcelona entregam-se à criação da cultura global, por soma de todas as partes do mundo que ali coabitam, e que se tentam adaptar a Barcelona pondo tudo aquilo que trazem consigo na mala, ao serviço desta nova forma de lugar, o lugar global.
Se a arte pode ser tudo o que nos faz experiênciar algo transcendente, então esta cidade faz-nos transcender em cada esquina, em cada mercado, em cada bairro, em cada colina, também pelos museus, pelas casas, pelas igrejas, mas principalmente pelo seu "modus vivendi", que não é do Bairro da Grácia, nem da Catalunha, nem de Espanha, nem da Europa, é do Mundo.
Ao fim da tarde, no Porto Velho, tomava um chá e apreciava aquele crepúsculo laranja escuro com castanho claro, e dou por mim a pensar numa frase inscrita na camisola do empregado de mesa que em Português seria "Eu não sou Espanhol, sou Catalão". Talvez um dia, num dialecto universal, fruto da civilização global, a palavra Catalão signifique Cidadão do Mundo.